segunda-feira, 22 de agosto de 2016

[Opinião] Dias Perfeitos, de Raphael Montes


Este livrinho ganhei no blogue da Helena Bracieira – As Horas Que Me Preenchem de Prazer (Obrigada mais uma vez). Já passou algum tempo e, apesar de o ter lido assim que o recebi, a rubrica Opiniões é nova e daí apenas falar dele agora. E vai ser o primeiro :)




Sinopse:

“Téo é um solitário estudante de Medicina que divide o seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas. Durante uma festa, conhece Clarice. Obcecado por ela, começa então uma aproximação doentia, que o leva a tomar uma atitude extrema que estabelece entre o casal uma rotina repleta de tortura psicológica e sordidez.
"Dias Perfeitos" é uma história de amor, sequestro e obsessão.”





Opinião:

Talvez por ter visto demasiadas séries policiais na televisão e, apesar de perturbador, achei o livro bastante cliché até cerca de metade. Por esta altura, o autor surpreendeu-me de um modo que me deixou arrepiada e com os pêlos da nuca eriçados. Tendo chegado a esta parte por volta das 2h da manhã, vi-me obrigada a fechar o livro. Tarde de mais, no entanto, para evitar um pesadelo ou outro. Sabem quando nos encolhemos e arrepiamos ao imaginar uma determinada coisa a acontecer connosco? Pois bem, foi este acontecimento em particular que me fez de imediato mudar de opinião em relação ao livro. A partir daí, o autor consegue continuar a surpreender até ao final, de uma forma não tão dramática – é verdade -, mas mantendo-nos agarrados à leitura.

É uma história de uma mente perturbada, controladora, obsessiva e doentia em que a vítima não é a típica mulher inofensiva e indefesa. Contada do ponto de vista do agressor, a narrativa da sua visão retorcida e em que arranja justificação para todas as suas atrocidades (afinal de contas, era tudo para bem dela e porque, ele sabia, ela amava-o tal como ele a amava a ela, só precisava de fazer com que ela visse isso) faz-nos quase querer esganá-lo e gritar sempre que ele está prestes a ser apanhado e não é.

Começando por um simples encontro social em que se conhecem e, a partir da acção que marca o momento do “não retorno”, Téo lê o guião (Dias Perfeitos) que Clarice estava a escrever e decide segui-lo na vida real, ao longo do qual tenta moldá-la naquilo que ele acha que ela deveria ser.

Quanto ao final, gostei, é inesperado e, na minha opinião, dá-nos a ideia de que ainda há ali uma centelha de qualquer coisa. E mais não digo.

Apesar de tudo, não consegui desligar-me do facto de, estando o livro escrito em português do Brasil, não haver preocupação em “traduzir”. Não sei quanto a vocês – dêem-me a vossa opinião – mas, para mim, o “brasileiro” deveria ser traduzido tal como qualquer outra língua. Não sei se me entendem, mas já me irrita o suficiente o acordo ortográfico. Enquanto lia, não conseguia desligar no meu cérebro o sotaque e algumas palavras que, para nós portugueses de Portugal, não fazem sentido nenhum e acabam por estragar um pouco o ambiente que o livro seria capaz de criar.


“Téo abriu as gavetas da cômoda e pegou o antigo revólver do pai. (…) Ele estava confiante: viajaria com Clarice para Teresópolis, iria conquistá-la aos poucos e – riu do trocadilho – juntos viveriam dias perfeitos.”

 “Poderia providenciar um banho de formol – ver nos olhos da maldita o desespero ao sentir a pele ressecar. Mas o que ele queria realmente era matá-la. E, então, pintar seus dedinhos pálidos com esmalte vermelho.”

Sem comentários:

Enviar um comentário