Prometido é devido e, apesar de ter demorado mais tempo a lê-lo do que contava, aqui fica a minha opinião :)
"Em 1368, D. Leonor Teles de Menezes, a mulher mais desejada
do Reino, casa com o morgado de Pombeiro, D. João Lourenço da Cunha. O
matrimónio é imposto por seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos.
Mulher fora do tempo, aceita contrariada o casamento, que a melancolia da vida
do campo não ajuda a ultrapassar. Por isso, decide abandonar o marido e parte
para Lisboa, para gozar a vida de riqueza e luxúria que a Corte proporciona.
Perversa e ambiciosa, não tem dificuldade em seduzir o jovem monarca, D.
Fernando, alcançando, desse modo, o poder que sempre desejou. Mas a nobreza, o
clero e o povo não vêem com bons olhos esta aliança de adultério com o Rei. E
menos ainda quando a formosa Leonor Teles se envolve com o conde Andeiro...
"Rosa Brava" é um romance baseado na investigação histórica que, por
entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela,
reinventa, numa linguagem cativante, uma das personagens mais fascinantes da
História de Portugal."
Opinião:
Pessoalmente, tinha uma ideia completamente diferente desta
personagem da nossa história. Embora todos a conheçam, nem que seja só de ouvir
falar, nunca tinha imaginado uma pessoa tão perversa, vingativa e manipuladora
o que me fez pensar que, de facto, não é preciso muito para uma pessoa ter a
sua vida destruída sem sequer saber porquê. Tudo bem, eu entendo os motivos e o período da história, e nesse sentido sim, era uma mulher emancipada, mas...
Tudo começa ao ser obrigada pelo seu tio – conde de Barcelos
– a casar com um homem que a repulsa até ao âmago. Encorajada pela sua fiel aia
e sempre odiando o bucolismo de Pombeiro (residência do marido), não descansa
enquanto não se faz convidada para a corte de Lisboa pela própria irmã. Sendo
uma mulher de extraordinária beleza, logo desperta a atenção de vários homens.
Mas, sedutora como era e mantendo-se firme ao seu plano, apenas lhe interessa o rei – D.
Fernando, que facilmente conquista e com quem consegue casar (com o
consentimento da igreja), o que a coloca na boca do povo como aleivosa e
adúltera. Nasce aqui o seu ódio e o seu desejo de vingança pelo povo e por quem
a não apoiava no seu matrimónio. Mas, ainda assim, não lhe bastava o título de
rainha – Leonor Teles queria também poder -, coisa que também não lhe foi
difícil adquirir, não fosse D. Fernando (ainda por cima de frágil saúde)
conhecido pelo seu gosto pelas caçadas e descuido dos assuntos referentes ao
reino e, portanto, facilmente manipulável.
Tudo isto, não esqueçamos, nos conturbados tempos das
guerras com Castela e com apenas 200 anos de Portugal, o que, com a morte
prematura de D. Fernando, culmina na crise da secessão de 1383-85.
Penso que o livro está extraordinariamente bem escrito e só posso imaginar o trabalho de pesquisa que esteve por detrás. Desde a linguagem usada pelo autor (estive sempre acompanhada do dicionário), ao cuidado com a descrição da indumentária e ao contexto histórico-cultural em que se encaixa.
Foi muito bom recordar alguns aspectos da história
portuguesa que tinham ficado bem lá no fundo do baú das memórias da escola,
descobrir outros – imaginar que terras que conhecemos hoje em dia foram outrora
refúgios de reis e rainhas, locais de caça ou, simplesmente, oferecidas como recompensas
em cartas-de-arras.
Penso que o livro está extraordinariamente bem escrito e só posso imaginar o trabalho de pesquisa que esteve por detrás. Desde a linguagem usada pelo autor (estive sempre acompanhada do dicionário), ao cuidado com a descrição da indumentária e ao contexto histórico-cultural em que se encaixa.
Ora, eu leio quase tudo – não sou ‘esquisita‘ com os géneros literários –, mas sempre gostei especialmente de romances históricos. Encaixado nesta categoria, confesso, no entanto, que não esperava que este livro me surpreendesse tanto e, certamente, irei ler mais obras do autor.
“Durante vários dias, da alvorada ao anoitecer, não se falou de outra coisa no Paço de Coimbra para além do insano acto do gentil infante, que atentou contra a vida da mulher por suspeita de uma traição jamais praticada.”
“Além disso, ninguém acreditava – mesmo os que odiavam Leonor Teles – que ela fosse capaz de armar uma intriga de morte tão perfeita como aquela para se ver livre de quem, na sua exclusiva interpretação, podia vir a usurpar-lhe o trono."
“Talvez por isso, no fim do acto, a soberana tenha abandonado à pressa e sem palavras os aposentos de Andeiro, deixando o conde estupefacto, ainda de calças caídas, preso à cadeira do consolo dele e da tortura dela.”
“- Talvez silenciar uns tantos, senhora… - interveio novamente o eclesiasta, acrescentando, sorridente: - Os cepos não se fizeram para outra coisa.”
Sem comentários:
Enviar um comentário